quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Relevâncias

Tentamos tanto achar a verdadequando a verdadeé tudo o que somos sem querer.
Me lembro de quando eu era menor. Aqueles adolescentes que querem se destacar. Eu perdia muito tempo tentando me classificar, me encaixar em algum grupo. Mas o que sempre acontecia é que quando eu achava que era metaleiro, tinha que abrir mão do samba, quando eu achava que era emo, tinha que abrir mão das alegrias, quando eu achava que era straight edge, tinha que abrir mão do álcool e quando eu achava que era ateu, tinha que abrir mão de deus.
As pessoas conseguem abrir mão na maior naturalidade. Eu não. Sempre quero acrescentar. Por isso, não coube em nenhum dos grupos que me acolheram, e isso me ajudou a formar minha personalidade além de todas as coisas.
Hoje vejo gente por aí, se dizendo ser tantas coisas. Religiosos, vegetarianos, empresários, cultuadores do corpo, escritores, quadrinistas, artistas plásticos... e o que mais? Nada.
Tudo bem, eles podem ser muito bons no que fazem, mas e daí? O que vai acontecer é que eles vão permanecer presos em seus mundos engaiolados, enquanto tentam, de todas as formas, achar uma brecha de liberdade. E o pior de tudo é que essas grades foram construídas por eles mesmos.
Quando eu era novo, buscava me conhecer, e queria achar uma definição pro que eu sentia. Mas hoje, depois de alguns anos, percebi que sou o que sou, e nada mais importa.
Eu sou o não. Sou o desprendimento. Sou o que sempre quis e sempre evitei. Sou o que o dia me faz ser. Se danço no meio da loja de discos, é porque senti vontade, e nenhuma etiqueta vai me impedir disso.
A gente perde muito tempo procurando uma classificação pra usar, quando na verdade é só sentir que conta.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Um passeio pelo mundo livre*


*O título faz uma alusão á música de Chico Science, que não fala sobre a mesma temática da crônica, mas também faz um questionamento sobre o que é liberdade na nossa “Sociedade” (Aspas usadas pelo compositor).

Sempre fui um cara normal, sem muitas ambições. Dentro dos meus (poucos) relacionamentos, sempre prezei pelo romantismo e pela fidelidade. Mas dentro de mim, havia um outro cara que queria aparecer. Um cara que tinha muita curiosidade em conhecer o “submundo”, o universo das casas noturnas, a vida promíscua, que se sustenta pelas margens da sociedade desde que o mundo é mundo. Conduzi meu amigo Zé pra uma night club em São Bernardo. Conduzi, sim, porque quem me levou foi ele. Eu apenas dirigi. Quando entramos, fomos muito bem recebidos, primeiro pelo gerente da casa, que nos deixou à vontade.
 Tínhamos quatro latas de cerveja de crédito pelo pagamento da entrada. Eu tinha pouco dinheiro – 60 reais contados, com conta bancária no negativo e sem cartão de crédito (e o Zé já havia pago a gasolina) – então tratamos de pegar o que já era nosso por direito.
Até a segunda latinha, eu e Zé conversamos sobre as trivialidades da vida, coisas comuns do cotidiano. Foi quando eu compartilhei com meu amigo a minha primeira conclusão: “Se todas as pessoas fossem tão gentis quando um gerente de boate, o mundo seria um lugar melhor”. Brindamos a pauta da minha nova crônica.
Na terceira lata, resolvemos sentar no sofá. Não demorou e chegou uma morena pra nos acompanhar. Ao que eu conseguia enxergar, Priscila era bastante atraente.
 No meio da conversa, Zé citou que eu era jornalista e que estava procurando histórias da vida noturna pra registrar. A resposta de Priscila me soou como uma música de Roberto Carlos: “Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer.”
Priscila me contou de uma amiga que foi se aventurar no mundo externo (o que elas chamam de “fazer saída”) e um homem a levou a uma chácara num lugar muito afastado. Entre beijos e carícias a amiga precisou ir ao banheiro, ao contragosto do homem, e ao chegar no recinto, percebeu que a banheira estava cheia de gelo. Conclusão: O homem mal encarado a mataria e conservaria seus órgãos no gelo para vender mais tarde. Assombroso, mas era esse tipo de história que eu estava procurando.
Não me recordo de quanta cerveja bebi neste dia, mas a cena mais próxima desta sequência que eu me recordo é de Priscila sentada no meu colo de frente e Lana (uma outra morena, mais nova, e não menos voluptuosa) ao meu lado, passando a mão no meu peito.
Foi quando Zé voltou do banheiro com uma outra morena, Juliana, mais corpulenta e mais experiente, com um vestido colado que dava asas à imaginação. Me lembro do discurso de Zé ao apresenta-la. Não vou entrar em detalhes, mas provavelmente a moça devia conhecer de diplomacia e oratória, porque ele exaltava suas habilidades orais.
Foi naquele momento que eu percebi a semelhança do submundo com o mundo externo. Eu tinha tudo. Duas mulheres sentadas no meu colo, cerveja e petiscos á vontade. Estava me sentindo tão bem que me lembro de ter exclamado “Estou no paraíso!”. Ai Priscila me fez a pergunta crucial: “E então amor, vamos subir para o quarto?”.
Eu subiria, mas me lembrei que estava ali como cliente. Era a lei da oferta e procura. Eu queria comprar, mas não tinha dinheiro, logo, o que elas poderia fazer? Vender de graça é dar, e elas não dão.
Perguntei o preço só para confirmar. 150 reais.
Cortaram o meu barato. Era como se você estivesse flutuando no céu com balões e uma flecha te acertasse, fazendo você despencar. Deixei claro, depois de muita insistência, que eu era estudante de jornalismo, desempregado, e que pela lei natural das coisas, aquele padrão estava muito alto para mim. “O que você pode fazer por 60 reais?” ainda perguntei, mas não havia produtos mais baratos.
No mesmo momento Lana sumiu e Priscila levantou do meu colo. Juliana arrastou meu amigo Zé para cima, e eu já não tinha mais nada, a não ser os petiscos – cortesia da casa. Ali, sentado naquele sofá, vendo Lana girar para outro cara sem sentir nenhum ciúme, e Priscila passear mandando beijinhos para mim, comecei a observar a paisagem de modo mais amplo.
Pessoas comuns, meninas da minha idade, que poderiam ter estudado comigo, crescido comigo, ser minhas amigas, minhas primas ou minhas irmãs, fingindo ser o que não eram – a contragosto ou não, por falta de opção ou não – para se sustentar e para garantir o pão diário. O que mais seria isso, senão um reflexo de uma sociedade pura? Num reflexo, vemos exatamente a mesma imagem, porém invertida. E foi exatamente o que eu vi, naquele momento. Uma sociedade inteira, com valores invertidos, prezando pela sacanagem e pela putaria, ao invés da moral e bons costumes.
A pergunta que fica é a seguinte: Será que quando nossa sociedade externa conseguir estabelecer a libertinagem como um direito conquistado e fazer disso uma espécie de valor, teremos que ir às boates para comprar doses de amor, carinho, respeito e compaixão?

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Terça


Ontem foi segunda
Eu folguei, ela trabalhou
Aproveitei pra arrumar a sala.
Organizei nossos filmes,
Os livros dela
Nossas revistas e quadrinhos

Hoje é terça
Não consegui achar o cinzeiro,
No fim, tava embaixo das roupas
A mesinha de centro tá com os restos de comida chinesa
Junto com o controle do videogame,
os pratos, copos e talheres
E as garrafas
E os livros, as revistas e os quadrinhos

Então ela me pergunta
"Essa mancha no sofá
é whisky ou porra?"

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Nós

Sou um misto de
Charles Bukowski
Nenê Altro
e Raul Seixas

Admiro grandes homens,
como Tom Zé e Belchior
Bixler-Zavala e Rodriguez-Lopez
Moon, Bá, Way,
Quentin e Mutarelli
Selton e Grampá
Caeto e Coutinho
Rafael Campos Rocha

Sou um misto de um monte de caras
Me identifico e queria parecer
Queria ter tanta coragem
Mas não sei até que ponto isso tudo pode ser verdade
Ou apenas a ficção
do cotidiano
interpretado por eles todos

É difícil saber quem eu sou
Sendo tantos ao mesmo tempo

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Não há vagas para visitantes

- Adorei nosso almoço hoje, babe.
- Eu também curti.


Eu sempre fui um estranho no ninho. Aparecer num lugar novo e completamente desconhecido não é novidade pra mim. Acontece que hoje, na minha primeira segunda feira de folga morando na Vila Mariana, eu me dei conta da nova fase que estou começando.
Havíamos comido num restaurante árabe dessa vez. Ela pagou, de novo. Na próxima a gente vai no espanhol.
Voltei caminhando e ela foi trabalhar. Passei a observar o novo cenário que eu me introduzia: asfalto, movimento, carros, pessoas no celular, calor. Hora do almoço. Gente fumando e andando, comendo e andando, falando e andando, e eu, cagando e andando.
São Paulo é um lugar estranho. Está sempre em movimento, sempre acontecendo. Mas é como se fosse um grande organismo formado por outros organismos pequenos. Cada um com sua vida, sua energia, sua engrenagem. Eles se movimentam sozinhos, e assim, fazem o grande sistema rodar. E eu estava no meio, sendo levado pela grande onda, pra qualquer lugar que eu caísse.
Lembrei de quando cheguei nesta terra nova. Me senti meio estranho. Me senti vigiado, como se todos olhassem para mim, me julgando e classificando, me definindo como mais um recém chegado. Passei por uma placa que me fez lembrar que eu não pertencia àquele lugar. "Não há vagas para visitantes". A placa se referia a um estacionamento de um condomínio, onde as vagas eram contadas exatamente para o número de moradores. Mas a carapuça serviu e eu fiquei pensando nisso, em quanto tempo eu levaria para ser sugado pelo grande monstro da cidade grande e me tornar mais um de seus órgãos - cancerígeno ou não.
Não é nenhum grande problema, visto que em casa eu tenho tudo que preciso. Tenho uma cama confortável, comida no prato e uns agrados de uma moça bonita. Mas é sim, um fato irrefutável de que esta é uma fase que pode deixar marcas profundas no que a gente acredita ser.
Por fim, o que é esta cidade senão um misto de visitantes diferentes que acabam se hospedando definitivamente em seu núcleo? E eu, o que seria senão mais um destes?

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O gato ou o homem?


Depois de uma tarde longa, de passeios bonitos, da tranquilidade de Trindade e o Centro Histórico de Paraty, conversas sobre a beleza dos sotaques novos, da arquitetura das ruas e da sujeira dos abutres, a patinha suja das garças que voavam pelo cais, dos doces caseiros dos carrinhos, de rir dos gringos tomando caipirinha e batucando as bossas novas já ultrapassadas, anoiteceu e tivemos que seguir rumo à nossa casa.
Talita, a linda moça que eu conheci há uma semana e que já se instalou em minha vida, com direito a escova de dente e chinelo, estava me acariciando no carro, enquanto ouvíamos Adriana Calcanhoto e nos locomovíamos pela rodovia, quando percebemos o peso da noite.
Um gato, jogado no meio da pista, brilhou os olhos, refletindo a luz da lanterna do meu carro. Parecia estar morto. Evitei mostrar, mas Talita viu, e então parei no acostamento e ela foi tirá-lo do caminho.
O felino ainda estava quente, e como se num estalo resolvemos levá-lo a algum veterinário para ver se dava para salvá-lo. Ela pegou o animal nos braços e entrou no carro. Seguimos viagem costurando o trânsito, de maneira imprudente, mas apropriada para a ocasião.
A distância era de uns doze quilômetros até a clínica mais próxima e sentimos que o gato não ia resistir, mas mesmo assim tentamos. Pra falar a verdade, a iniciativa de levá-lo foi dela. Se fosse eu, teria apenas o tirado da pista para não fazer pastel de gato.
Chegamos à clínica e tocamos a campainha. O veterinário foi atencioso e pediu desculpas pelo traje casual (bermuda e camiseta, descalço). Pegou o bichano e colocou na mesa de operação. Tarde demais. O bichinho já estava morto.
Agradecemos a atenção e fomos embora, chateados por não termos chegado a tempo para salvá-lo, mas com a sensação de dever cumprido.
Rodamos por mais uns dez quilômetros, com tempo suficiente pra desencanar do gato, quando vimos mais uma cena pesada. Primeiro, estilhaços de vidro no asfalto, depois uma pessoa jogada no acostamento, parecendo estar morta. Meus instintos disseram “pô, tirei um gato da pista e vou ignorar esta pessoa?”. Mas não sabia o que fazer, fiquei assustado. Parei no acostamento novamente e perguntei a opinião de Talita, minha heroína pessoal.
Ela também não sabia como agir, então ligamos para a emergência enquanto voltávamos para averiguar se a pessoa estava realmente morta ou não. Enquanto Talita passava as coordenadas para a atendente, percebemos que a pessoa estava andando, com dificuldade, mas andando.
Talita desligou o telefone e perguntou para a pessoa (era um homem) se ele precisava de ajuda. Ele disse “preciso!” com uma propriedade assustadora, mas parecendo estar ciente do que dizia. Logo, parei o carro mais a frente e descemos. Fomos andando em direção ao homem macabro.
A noite estava mais escura do que eu pensava, de modo que só dava pra ver alguma coisa quando algum carro passava. Chegamos perto e o homem teve um ataque de fúria e começou a quebrar as coisas que carregava. Ele gritava e gesticulava, mas eu não via. Talita agarrou na minha mão e eu coloquei-a atrás de mim e disse “oi”.
Outro carro passou e eu percebi que o homem estava nu. Foi quando ele gritou “EM QUÊ VOCÊ PODE ME AJUDAR? EM QUÊ?”
A hostilidade dele me assustou um pouco, e percebi que só estava atrapalhando o homem. Voltamos com pressa e com medo dele nos atacar, entramos no carro e fomos embora.
Dirigi com medo, lembrando da silhueta do homem em fúria. Sua dicção me lembrou a do meu melhor amigo, Henrique. Seu ataque nu me lembrou dum problema de família, relacionado à esquizofrenia e cocaína. Sua aparência me lembrou Jorge, amigo de Brás, em Daytripper.
A ocasião só me fez pensar no quanto somos impotentes sobre a vida alheia. Da mesma maneira que não podemos ressuscitar um gato, não podemos ressuscitar um homem. Aquele corpo estava andando pela estrada, e estava morto. Assustadoramente verdadeira, a vida nos dá patadas de realidade, cada vez que escurece e saímos pelas estradas escuras, querendo apenas um repouso.
A pergunta que ficou é justamente a que o homem louco fez, e que ficou rodando na minha cabeça durante um bom tempo: “EM QUÊ VOCÊ PODE ME AJUDAR?”

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Coloco mais um prato em cima do criado mudo e acabo o suco de maracujá na esperança de dormir melhor, mas sei que os bons sonhos que eu terei serão, novamente, baseados nela.
Me peguei pensando em duas coisas que mais me marcaram nesses últimos dias: a terra do meu chão, desde o piso de tacos que povoa meus pensamentos, até a pedra mais alta da Chapada Diamantina.
Preciso andar novos caminhos, descobrir novas terras, sentir novos grãos, areia, pó.
Me lembro também daqueles cabelos revoltos que combinavam com a luz vermelha que entrava pela porta da varanda. Seus lençóis brancos retorcidos pelo movimento de nossos corpos e o desejo de não querer nunca mais sair dali.
Instalaria uma rede naquela varanda. Uma rede especial, pra dormir a dois.Se bem que uma rede individual estabelece a necessidade de se enroscar. E bem que eu gostaria de voltar a me enroscar naquele corpo pequeno e ruivo.
Faria o café, se conseguisse acordar mais cedo. Trocaria a lâmpada e o resistor do chuveiro, se fosse necessário. Colocaria o varão da cortina. Tudo pra ver brilhar aquele sol dentro do quarto novamente, e sair limpando o chão de tacos com nossas roupas.
Mas ao mesmo tempo, queria jogá-la dentro do automóvel e sair rasgando o chão, erguendo o véu de poeira citado nas canções, subindo montanhas e sentindo o vento batendo no rosto.
E voltar a ser o garotinho que observava maravilhado os mini-tufões que o vento causava com o pó de sua rua de terra, nos dias quentes de verão. Que sempre gostou de sentir o que não se pode ver, mas se sabe que está lá.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pane no Sistema


Cá estou eu, fumando no meu quarto, e considerando isso uma grande conquista. Este sou eu hoje. Soprando fumaça na cara do computador. O moço velho. De nenhuma grande batalha. Minha geração é perdida. Não temos nada com o que se preocupar, além dos likes e das notificações novas.
A quem eu quero enganar? O que espero provar assim?  Estou tentando me autoafirmar como o cara que eu li num livro. Ele não era eu, mas era alguém,  mesmo  que mais um bosta fracassado. E eu, o que sou?
Sou o cara que busca a si mesmo nos outros. Busca força e se alimenta de novos espíritos jovens e bem alimentados. O cara que precisa sempre de motivação alheia pra seguir, por pura preguiça de trilhar seu próprio caminho.
Mas quem vai me dizer que eu devo trilhar meu próprio caminho? E quem vai me explicar como fazer isso? Grandes nomes da MPB? Poetas que escreviam o que achavam bonito? E qual era a inspiração deles? Será que buscavam encontrar a si mesmos em realidades paralelas ou em seus ídolos?
Somos um misto de memórias e informações vividas por outros. Vivemos algumas poucas coisas, relatamos, misturamos com as outras informações e só. Juntamos informações exatas e inexatas, e transformamos em realidade. Essa é a função do homem.
Esta é a sociedade, este sou eu. Uma máquina orgânica que precisa de energia pra produzir bosta. E a mesma energia controlada pelo software dessa máquina produz uma realidade imagética que lhe serve de base pra produzir mais bosta. No fundo somos só carne em decomposição.
Sonhos, lembranças, memórias, imagens, sons, cores, figuras, aromas, sensações e gostos são apenas elementos que ilustram o que chamamos de realidade. No fundo, nada é real. A verdade é que só fazemos parte do contexto todo, do universo, que pode estar inserido em outro contexto muito maior, e que nunca compreenderemos.
Matéria orgânica, a mesma base do resto do mundo. Átomos, moléculas, que são parte do corpo maior, que chamamos de universo.
Um cigarro não é suficiente pra compreender toda nossa existência.
é você olhar no espelho e se sentir um grandessíssimo idiota,
saber que é humano, ridículo, limitado e que só usa dez por cento de sua cabeça animal
e você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social 
 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Dia Em Que Eu Morri

Ele já sabia o que estava o aguardando. Quando o relógio bateu 18h, ele colocou o som no volume mais alto que podia. Ave Maria da Rua. A figura feminina que ele tanto respeitava, e precisava. Encheu seus olhos de lágrimas ao fazer a oração, mesmo não acreditando em nada daquilo.
Depois, Canto Para Minha Morte. No fim do primeiro refrão ele não aguentou e substituiu para Alive. Ouviu-a inteira e viajou no solo de guitarra. Depois, De Onde Vem a Calma, enquanto comia uma maçã.
Pegou o carro e saiu. Ficou parado no trânsito por 40 minutos. "É tarde e eu não voltei". No fim, trocou de álbum. The Black Parade.
Um carro cruzou sua frente. No último verso de Dead, reparou na placa: DED e mais alguns números aleatórios. Sentiu a presença da morte e teve medo. A partir daí, começou a se preocupar.
Saiu do engarrafamento e pegou a rodovia. Um motoqueiro bambeou a 100km/h. Ele ficou observando a moto de longe, só esperando a queda. A moto sumiu no horizonte. A morte não estava com ela.
Pensou nele próprio, mas não podia ser. Pareceu um boneco, uma marionete, dirigindo sem prestar atenção nos arredores, apenas na pista, no vidro da frente.
Seguiu o caminho, respeitando os limites de velocidade. Parou em todos os semáforos, respeitou as faixas de pedestre. A cada esquina, esperava um caminhão em alta velocidade, um ônibus desgovernado, ou ainda, um cachorro atravessando distraído.
Virou numa ruazinha de bairro e viu um vulto branco no meio da pista. O carro da frente freou bruscamente. Ele freou também, logo em seguida, e parou completamente. Era uma menininha aprendendo a andar de bicicleta. Seu pai pediu desculpas e a tirou da rua.
Seguiu reduzindo a velocidade a cada cruzamento. Nem ouvia mais a música no rádio. Estava em alerta. Sentia cheiro de morte.
Pensou em seus pais, seu irmão. Não podia ser, eles estavam bem quando ele saiu de casa. Pensou em sua professora com câncer. Tomara que não seja ela.
O cheiro de morte estava mais forte. Fumaça. O carro estava pegando fogo? Não. Era um ginásio que estava queimando desde a manhã.Viu os bombeiros e procurou algum corpo. Não achou nada.
Já estava chegando, e foi ficando preocupado. De quem seria esse cheiro de morte que estava pairando ali? Seria dele mesmo?
Estacionou o carro e viu um casal segurando um bebê recém nascido no colo. O casal entrou na casa em frente ao carro estacionado.
Ele trancou as portas e desceu a ladeira. Entrou num boteco pra comprar cigarro. Pediu um Marlboro vermelho e observou o movimento. Era ali que a morte estava. Algum noia ia entrar e assaltar o boteco, ainda ia atirar na sua cabeça. BAM! E ele ainda ia ter tempo de ver seu sangue e seus miolos no chão, antes de apagar.
Não foi isso que aconteceu.
Parou na esquina do boteco e acendeu o cigarro. Foi andando devagar e aproveitando cada tragada. Ia ser seu último cigarro.
Cruzou a catraca e seu cigarro estava na metade. Parou na porta do prédio e fumou o resto. Apagou a bituca num copinho de café que estava no murinho e levantou. Sentiu seu coração pulsando devagar.
Entrou na secretaria e buscou café. Não tinha. Resolveu subir. Estava mais que atrasado.
Antes, parou no banheiro pra mijar. Pôs o pau pra fora, no mictório, e apoiou a cabeça na parede. Lembrou-se de quando trabalhava na fábrica. Ele costumava dormir por dois minutos, com a cabeça apoiada na parede, enquanto mijava. Depois, aprendeu a fazer isso quando estava muito bêbado pra conseguir ficar em pé, pra mijar.
Lavou a mão e subiu, degustando degrau por degrau. Entrou na sala. Todos olharam pra ele. O professor continuou explicando.
Escutou no auto-falante do computador: "Eu sou Lucas Panoni e esse foi o Drops Plug USCS". Capotou na cadeira.

Morreu ali, na sala de aula, durante o discurso do professor Flávio Falciano, sobre seu programa de rádio jornal.


domingo, 23 de setembro de 2012

- Então você fuma pra preencher o vazio?
- Sim. Pra preencher o vazio das Penelopes, Tamires e Marinas. E o vazio dos Lucas que ficaram nelas...

Prosa de bosta


Sou assim. Sempre fui tachado de fracassado. Gostava do sofrimento, achava bonito. Todos riam de mim e eu não me importava com as risadas. Ate gostava. Gostava porque trazia eles pra perto.
Então, as coisas começaram a dar certo pra mim. Eu não estava acostumado. Me sentia bem com o fracasso, estava adaptado com o sistema da falha. Eu falhava, eles riam, eu chegava perto, e falhava. A falha era matéria prima do meu trabalho. Chegava em casa e escrevia sobre tudo o que me encantava. Me chamavam de louco. Escrevia sobre as falhas e me chamavam de artista.
Quando as coisas começaram a dar certo e parecer com o que eu me encantava, me senti estranho. Aquele parecia não ser eu. Eu era o falho, não o jovem alegre que fazia planos pro futuro. Resolvi romper com isto, e voltei pra falha.
Sempre fui apegado à minha merda. Depois que cagava, olhava pra ela e observava ela ir embora pelo cano. Ás vezes uma tora bonita e majestosa, digna de ser chamada de merda. Ás vezes um monte de pasta marrom, que saía sujando a louça, digna de ser chamada de bosta.
Eu queria tirar uma foto de cada merda e fazer um mural. Cada uma representando uma característica minha.
A merda escultural, aquela coisa grande e imponente, que fica com a cabecinha pra fora da água e dá a impressão  de que não vai descer.
A merda dividida, que está toda retalhada, porque de alguma maneira o cu hesitou em deixá-la ir embora por inteiro.
A merda sólida, ressecada, que é como se estivesse levando consigo todas as impurezas do corpo.
A bosta pastosa, que demora a sair, e parece que levou uma parte do corpo consigo. Aquela que, pela força exercida, parece que vai ser lustrosa e colossal, mas quando se vê, é apenas uma tira de Suflair derretido.
A bosta líquida, que é só arrumar uma brecha que sai. Sem esforço, sem dificuldade, com rapidez, mas sem êxito. A bosta menos digna que seu intestino pode produzir.
Estes são apenas alguns exemplos de merdas que podemos fazer. Eu sempre reparei nas minhas, e sempre dei o devido crédito ao meu cu, por tê-las esculpido com o esforço devido. Posso dizer que cada merda representa uma parte de mim, da minha vida, já que eu sigo vivendo assim, como merda, só forçando a passagem e passando, saindo, e fluindo, cada vez de uma maneira, me adequando ao momento. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A Deusa Grega Imortal

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Pensa, logo incita.

Ante os olhos dos que o cercam passa como quem não quer nada.
Aspirante a bon vivant,
agora aspira entre a cerveja e a cachaça.
Palma da mão é de calos, palavras o afagam quando o calam.
'Seja realista' eu falo, 'pare de crer que pode mudar o mundo!
Joga teus ideais no lixo e senta pra tomar um café'.
Se cala, sorri. Sabe que é uma pessoa errada.
A pessoa errada, na época errada,suas tatuagens desmentem sua cara lavada. 

Os lábios nunca tocados, os cabelos nunca acariciados, as mãos nunca encontradas, as pernas nunca abertas.
Estive procurando um texto que escrevi pra ela, mas não achei. Achei só o que ela escreveu pra mim. Parece mais um prólogo, um presságio, ou até mesmo, uma premonição. 
Ô moça pra arrancar suspiros. Foi embora, talvez nem volte. Tá longe e só me deixou as fotos.
Como é que eu posso tomar como referência alguém que eu nunca tive contato?
Talvez esse seja o intuito dos grandes deuses da sua terra.
"Pra que sempre mais mulheres? O que eu estava tentando fazer? Era excitante um caso novo, mas também dava um trabalhão. O primeiro beijo e a primeira trepada tinham uma certa dramaticidade. As pessoas são interessantes no início. Aos poucos, porém, todos os defeitos e loucuradas botam as manguinhas de fora, é inevitável. Começo a significar cada vez menos pras pessoas, e elas pra mim."

(Mulheres - Charles Bukowski)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Bukowski me fodeu

Agora estou com a garganta fodida, tossindo pra caralho. Aquela tosse com gosto de catarro, e aquele catarro que parece água.
Isso sempre acontece. Tempo seco, é normal. Mas eu odeio. É a única coisa que não me deixa dormir.

Qualquer coisa me deixa dormir, menos isso. Pra passar o tempo, andei lendo Bukowski. Ele também tá me debilitando. Não cheguei nem na metade do livro e já estou questionando o que eu era e o que eu me tornei.

Não me lembro de quando eu era feliz. Só consigo me lembrar das noites que virei bebendo ou tendo alucinações com drogas e músicas pesadas. Acho que esse é meu conceito de felicidade agora.

A tosse é a única coisa que permanece a mesma.

Não me lembro mais de dias ensolarados, apesar de tê-los visto e sentido o calor que fez nesse último feriado. Só consigo me identificar com este quarto, esta cor, esta luz. Todo o resto não parece eu.

Pra mim, eu sempre fui eu mesmo. Hoje percebo que eu sou um punhado de outras pessoas. Cada um chega e implanta um pedaço de si em mim, e quando eu vejo já sou essa parte dele. É difícil tentar lembrar de como eu era antes dos outros. Acho que eu não era.

Talvez o que eu consiga definir como "eu" é a latinha de cerveja e o rolo de papel higiênico (pras minhas masturbações diárias). O engraçado é que se todas as pessoas que me conhecem vissem esse outro lado, com certeza, estranhariam esse "novo" Lucas e o rejeitariam por achá-lo estranho demais. Se todos já tivessem visto o que eu já vi...

Enquanto vou me questionando, vou trocando de máscara e me enganando no espelho toda vez. O que eu não posso é continuar achando que o semblante de plástico é meu rosto de verdade.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O Seu

Então, eu sei que é um emaranhado de situações, de pernas e de fios de cabelo. São sombras, cores, cheiros e lembranças que são perpétuas na minha memória. Mas compreenda que estou nesta vida porque gosto, e gosto muito.
Mas não gosto apenas de me perder por aí, jogar garrafas de cerveja nos muros da Paulista e depois correr como um menino de quinze anos. Não gosto apenas de me envolver com novas bocas a cada bar, a cada esquina, como homens de trinta e poucos.
Eu gosto muito dessa sensação de falta (e que não é ausência) que você me faz. Gosto de ver uma foto sua, olhar pro seu ombro despido e lembrar da sua textura, da sua temperatura. Gosto de ver suas curvas de longe e imaginar minhas mãos passando suaves por entre cada dobra.
Gosto de sentir vontade de chorar ao ouvir uma canção inoportuna, gosto da sensação de surpresa ao convidar você (ou ser convidado) pra sair e ter que imaginar qual será o seu vestido novo e se haverá um toque ou um beijo a mais.
Dá pra ficar citando aqui tudo que eu gosto, e tudo que eu sinto falta e tudo que eu mato a saudade com um segundo em que você chega perto de mim e eu consigo sentir seu cheiro. O cheiro característico da essência que tá aí dentro, e que embalagem nenhuma vai tirar. O cheiro que eu amo, e amo de verdade, porque sei que tem uma mistura de mim mesmo.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Toque Dela

Quase sete da manhã, estou indo dormir, sem sono. O domingo inteiro passou depressa demais, não deu nem pra respirar. Depois que ela foi embora eu simplesmente fiquei sentado, passando o tempo com jogos eletrônicos, até agora.
Vou deitar com aquela sensação gostosa de lembrar do que aconteceu. Ela me disse que eu digo coisas maravilhosas com a mesma naturalidade de quem dá um oi. Eu disse a ela que sua pele arrepiada de frio combina com o Radiohead tocando e cria uma aura de beleza imensa quando está à meia luz. Aquela sensação de que isso poderia durar muito mais tempo do que de costume.
Me apaixono fácil, eu sei. Mas não tem como evitar casos como esse. Julia gosta de mar, gosta de vento, mão de homem. E eu gosto de Julia. Talvez mais do que queria.
Não sou mais desses que fazem promessas, mas gostaria de deixar registrada a beleza do momento e do sentimento que está vivo e pulsante agora. Quero deixar as coisas acontecerem sozinhas.
Assim, continuaremos a cantarolar Amarantes e Camelos por mais alguns quilômetros e a ficar em silêncio por mais alguns segundos.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sou Jornalista

Sou jornalista. Não porque sou interessado pelos assuntos atuais. Não porque sou crítico e gosto de expor minha opinião. Não porque sou chato e cricri com erros de gramática. Sou jornalista sim, e nasci assim. Não sou revolucionário, não tiro boas notas. Não tenho os melhores trabalhos, não ganhei prêmios e nem fui o melhor aluno da sala. Minha redação não foi a mais elogiada.
Mas sou jornalista, sim, porque sou apaixonado por isso. Porque me encanta conhecer coisas novas. Porque tenho a necessidade de evidenciar o que realmente merece ser evidenciado. Porque penso que todos merecem se expressar e contribuir cada vez mais pra evolução humana. Mas o que me incentiva mais do que tudo é a esperança. A esperança de que meu povo possa enfim crescer. Crescer sem esquecer seu passado. Possa erguer a cabeça e se orgulhar de ter tido as maiores vitórias.
Meu povo, meu país. Jamais podemos nos esquecer das manifestações de rua que nossos pais participaram. Jamais podemos esquecer do que eles submeteram pela nossa liberdade. Jamais podemos deixar a libertinagem de hoje dominar a liberdade que nossos antepassados conquistaram.
Hoje está melhor que ontem, sem dúvidas, mas devemos ter sempre em mente os que sacrificaram suas vidas lutando por um futuro melhor. Temos que encarar nossos problemas de frente, unindo-nos e buscando solução.
Não vivemos só de carnaval, futebol e facebook. Temos a missão de tornar nossa terra mais rica pras próximas gerações. Não podemos apenas pensar que somos ricos porque vivemos num país em crescimento econômico. Temos que olhar pra nossa cultura, aprender a avançar com o que sabemos fazer melhor e seguir em frente.
É essa paixão e esse espírito que me fazem querer ser jornalista e amar o que estudo. Mesmo com as tentações e as dificuldades. Mesmo com a cervejinha do boteco ao lado da faculdade. Mesmo com as oportunidades de manter meus braços dentro de uma máquina.
Jornalismo não é feito de diploma, jornalismo é feito de coração.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Bolero

se minha vida fosse um filme francês
se chamaria "Suas Costas Embaixo da Minha Janela"
e teria apenas uma cena, repetida várias vezes
suas costas embaixo da minha janela

as curvas, os traços, a cor
a intensidade e a suavidade de uma tarde de inverno
a minha capacidade de não saber expressar
a pureza da tranquilidade daquele momento

quem dera poder reparar sempre
na beleza contida no cotidiano
esquecida nos cantos escuros dos quartos
escondida dentro dos vestidos estampados

e é quando o bolero cai na tarde
que seus ombros desnudos preenchem meu ser
e resultam num poema limpo e simples
e belo como só aquilo poderia ser
(mas sem rimas, que isso eu não sei fazer)

sábado, 26 de maio de 2012

Inércia

Ás vezes sinto falta do poste.
Ele estava lá, com toda a luz que eu precisava. Parado.
Fui de encontro, mas errei a porta.

Hoje o que eu mais queria era pisar fundo e acelerar.
Me encontrar com ele novamente.
E dessa vez, acertaria o caminho e encontraria a luz.

domingo, 13 de maio de 2012

dias de outono

Tomando uma coca cola amarga
desejando o gosto doce de uma cerveja.
Naqueles dias que você agradeceria se não tivesse acordado.
Quando você carrega o peso do mundo nas costas,
só pra não ver dois mundos colidindo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Breu

E hoje, mais uma vez, paramos pra refletir sobre a consequência de nossas escolhas.
Um olhar pra cima, desconversado, reparou uma fresta no telhado:

-É bonito ver o sol nascer por entre essas telhas mais brancas.
-Olha, quase dá pra ver o céu azul!

Todo mundo tem pressa. Inclusive a gente. Nós movimentamos uma nação. Nós acordamos antes do galo, colocamos qualquer moletom, tomamos um gole de café, pegamos nossa carteira e caímos no mundo, enquanto a cidade dorme.
É escura a vida da nossa espécie. Acordamos no breu. Saímos iluminados somente pelas luzes in(can)de(s)centes dos postes. Subimos no ônibus, entramos no metrô. Desembarcamos no porão dos prédios sujos de fumaça das chaminés. Aí é que fica bonito ver o céu azul e o efeito que o sol da manhã faz nas frestas do telhado.
É assim. Tem sido assim. Essa máquina que gira e que corta, que esmaga, que tritura. Todos nós somos mutilados. Todos temos cicatrizes. Todos nós fomos, um dia, arrancados de um lugar para outro completamente desconhecido. E aí embarcamos, sem medo - ou não.
Aprendemos a viver nesse caos de barulho, sujeira. E é sujeira em todos os sentidos: física, moral e intelectual.
Sabemos que pra amar precisa tempo, e é isso que não temos. Temos tudo o que nos é necessário para a vida: dinheiro, roupas, comida. Falta tempo.
Se chegamos dez minutos mais cedo, aproveitamos como? Sentados, vendo TV. Folga serve para trabalhar em outro lugar. Antes de dormir, alguns sonham, outros pensam. Dormindo, alguns acordam, outros sonham. Acordados, alguns pensam, outros dormem.
Mutilados, cansados e sofridos, estamos todos sonhando.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Tango (No limbo)

tô  precisando agarrar em um deus.
tô precisando de uma estátua pra adorar.
estou perdendo as forças pra lutar
é o preço que se paga por pensar demais...

queria ter nascido cego de raciocínio, talvez fosse mais feliz
tendo nunca conhecido o outro lado
tendo vivido o tempo todo inconsciente
mas com a (in)consciência tranquila

acordar, dormir, dormir, sonhar
sonhar, acordar, viver, dormir,
dormir, viver, viver, sonhar,
sonhar, dormir, viver, acordar,

e já não sei mais o que é real
já não sei mais o que é sonho
não posso me curar dessas cicatrizes que ele me deixou
por ter um dia me mostrado sua verdadeira face

esse carrocel girando mais uma vez
como um tango com o diabo
ele se disfarça de beleza, e se veste de vermelho
desce uma rua lamacenta e me chama pra sair

toca meus lábios, sutil
e me faz girar, girar, girar
e eu já não sei a quem devo atormentar
e eu já não sei a quem devo proteger

o que é o amor, senão uma explosão de sensações?
sendo assim, quem eu amo, senão a vida e tudo que nela está contido?
meus demônios disfarçados, meu mundo desmoronado
e meu anjo da guarda, de vestido florido, confiando e acreditando em mim.

tudo isso está colidindo e entrando em colapso no grande limbo que é a minha cabeça.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A quem possa interessar

Eu não quero mais fingir. Tudo em minha volta é frio e triste. Só você me dava o brilho e a cor que meus dias precisavam. Talvez por isso que eu nunca fiquei longe de você.
Acontece que agora, acordando novamente às quatro da manhã, tomei um choque de realidade:
"você ainda quer jogar? Vai arriscar perder o grande amor da sua vida em troca de fodas mal feitas e cenas de filmes dramáticos?" Não.
Chega de fingir felicidade, chega de fazer ceninha. Todo mundo sabe que eu te amo, pra que esconder? A verdade é que eu acordo todo dia pensando em você, mas me esforço pra te esquecer só por esse dia, pra ter um motivo pra continuar vivendo assim. Coisa de acomodado.
Achei que me relacionar com outras garotas não me faria esquecer você, mas sim ajudar a te compreender como sendo a minha garota. Agora eu sei que isso eu só aprendo com você, e por que não tentar mais uma vez? Eu te amo, e tudo que eu fiz e faço até hoje é por você e pra você. Me desculpa ter sido um idiota esse tempo todo.

(Escrito no bloco de notas do celular, na segunda feira, 16/04, às 6:20 da manhã)

"Sou uma explosão tardia de hormônios, e uma ejaculação precoce de sentimentos"
(Lucas Panoni Oliveira)

domingo, 15 de abril de 2012

Né?

- Sem inspiração?
- Sim, não sei por que...
- Dias mornos, sentimentos mornos...
- Outono, né?

quarta-feira, 28 de março de 2012

"I had a vision of festive days"



Estava conversando com a Bia (não a sua irmã) sobre amizades verdadeiras. Falamos muito sobre tudo que vivemos ao longo desses vinte anos, todas as desventuras, todas as ilusões, tudo que nos fez tropeçar ao longo dessa jornada longa que é a vida.
É claro que eu citei meu exemplo favorito: você.
Faça uma pausa, acenda um cigarro. Quero ser tão breve quanto um trago, ou um gole. Tem cerveja na geladeira, você é de casa.
Não me lembro como foi exatamente que nos conhecemos, talvez nos rachas de bicicleta nas ruas da praia, entre tombos e joelhos ralados, mas lembro de quando você jogou o chinelo no imbecil do piercing que atrapalhava nossas filmagens. Ele ficou puto e foi pra cima de você. Essa foi a primeira vez que eu senti o meu sangue esquentar por uma pessoa. Sorte a dele que meu pai chegou na hora em que meu punho chegava na cara do idiota.
Um tempo depois, lembro das nossas longas caminhadas sem fim, devagar, divagando sobre a vida e a existência das coisas. Aqueles eram tempos tranquilos, em que pensávamos no porque de pensar. Nessas caminhadas também houveram minhas reclamações sobre garotas, e seus conselhos, sempre muito reconfortantes.
Nós crescemos, não exatamente juntos. Não moramos na mesma rua ou no mesmo condomínio, mas mesmo assim, você esteve presente em todos os meus bons momentos. Na minha investidura aos escoteiros, você estava lá. No meu aniversário de 15 anos, você me parabenizou.
Estávamos juntos, sempre. E a cada ano, nos reuníamos com nossas barraquinhas no melhor lugar do mundo, onde mais uma vez contávamos estrelas e causos até a alta madrugada - uma, duas da manhã.
Crescemos, mas eu continuava o mesmo. Continuava falando de garotas, e você continuava ouvindo. A verdade é que eu sempre tive inveja de sua bicicleta ter mais luzinhas que a minha, ou de você saber tocar violão e eu não. E você sempre tinha inveja de eu pegar mais garotas que você. Saudável, eu diria.
Hoje, somos quase adultos. "Temos um emprego que odiamos pra comprar merdas que não precisamos". Você manja pra caralho de música, domina escalas pentatônicas e fala sobre coisas que eu nunca ouvi falar. Comenta sobre notas musicais, harpejos e outras palavras que não constam no meu dicionário, enquanto eu te invejo e falo "é, pode crer...". Eu, por outro lado, tô na boemia ainda, nas decepções amorosas, nas brigas e desilusões femininas. Tudo por um rabo-de-saia. O lado bom é que você não tem mais luzinhas na sua bike, mas em compensação, tem fama na sua cidade de ser o galanteador (estou perdendo meu posto).
É engraçado pensar nisso. Não parece que o tempo passou depressa, parece que passou, apenas, do jeito que devia passar. Tenho lembranças ótimas, que não se perderam e que nunca se perderão. Foram dez anos de amizade plena e verdadeira. Não precisamos beber cerveja toda sexta, não precisamos nos falar todo dia, não precisamos curtir status toda hora. Sabemos da existência um do outro e isso basta.
Quando citei isso pra Bia, ela disse "não chora". Ela me via pela webcam. Eu estava engolindo seco. Não gosto disso, gosto de chorar, faz bem, revigora. Então, me castiguei. Coloquei The Rain Song pra tocar. Foi como se viessem todas as lembranças de uma vez, e mesmo sem saber o que o Jimmy Page tava fazendo com aquele violão, eu sabia que parte de você tava ali, me senti bem e chorei, chorei feito uma criança.
Então, o que é o amor, se não for isso?

I've felt the coldness of my winter
I never thought it would ever go
I cursed the gloom that set upon us, upon us, upon us
But I know that I love you so
Oh, but I know that I love you so