sábado, 26 de maio de 2012

Inércia

Ás vezes sinto falta do poste.
Ele estava lá, com toda a luz que eu precisava. Parado.
Fui de encontro, mas errei a porta.

Hoje o que eu mais queria era pisar fundo e acelerar.
Me encontrar com ele novamente.
E dessa vez, acertaria o caminho e encontraria a luz.

domingo, 13 de maio de 2012

dias de outono

Tomando uma coca cola amarga
desejando o gosto doce de uma cerveja.
Naqueles dias que você agradeceria se não tivesse acordado.
Quando você carrega o peso do mundo nas costas,
só pra não ver dois mundos colidindo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Breu

E hoje, mais uma vez, paramos pra refletir sobre a consequência de nossas escolhas.
Um olhar pra cima, desconversado, reparou uma fresta no telhado:

-É bonito ver o sol nascer por entre essas telhas mais brancas.
-Olha, quase dá pra ver o céu azul!

Todo mundo tem pressa. Inclusive a gente. Nós movimentamos uma nação. Nós acordamos antes do galo, colocamos qualquer moletom, tomamos um gole de café, pegamos nossa carteira e caímos no mundo, enquanto a cidade dorme.
É escura a vida da nossa espécie. Acordamos no breu. Saímos iluminados somente pelas luzes in(can)de(s)centes dos postes. Subimos no ônibus, entramos no metrô. Desembarcamos no porão dos prédios sujos de fumaça das chaminés. Aí é que fica bonito ver o céu azul e o efeito que o sol da manhã faz nas frestas do telhado.
É assim. Tem sido assim. Essa máquina que gira e que corta, que esmaga, que tritura. Todos nós somos mutilados. Todos temos cicatrizes. Todos nós fomos, um dia, arrancados de um lugar para outro completamente desconhecido. E aí embarcamos, sem medo - ou não.
Aprendemos a viver nesse caos de barulho, sujeira. E é sujeira em todos os sentidos: física, moral e intelectual.
Sabemos que pra amar precisa tempo, e é isso que não temos. Temos tudo o que nos é necessário para a vida: dinheiro, roupas, comida. Falta tempo.
Se chegamos dez minutos mais cedo, aproveitamos como? Sentados, vendo TV. Folga serve para trabalhar em outro lugar. Antes de dormir, alguns sonham, outros pensam. Dormindo, alguns acordam, outros sonham. Acordados, alguns pensam, outros dormem.
Mutilados, cansados e sofridos, estamos todos sonhando.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Tango (No limbo)

tô  precisando agarrar em um deus.
tô precisando de uma estátua pra adorar.
estou perdendo as forças pra lutar
é o preço que se paga por pensar demais...

queria ter nascido cego de raciocínio, talvez fosse mais feliz
tendo nunca conhecido o outro lado
tendo vivido o tempo todo inconsciente
mas com a (in)consciência tranquila

acordar, dormir, dormir, sonhar
sonhar, acordar, viver, dormir,
dormir, viver, viver, sonhar,
sonhar, dormir, viver, acordar,

e já não sei mais o que é real
já não sei mais o que é sonho
não posso me curar dessas cicatrizes que ele me deixou
por ter um dia me mostrado sua verdadeira face

esse carrocel girando mais uma vez
como um tango com o diabo
ele se disfarça de beleza, e se veste de vermelho
desce uma rua lamacenta e me chama pra sair

toca meus lábios, sutil
e me faz girar, girar, girar
e eu já não sei a quem devo atormentar
e eu já não sei a quem devo proteger

o que é o amor, senão uma explosão de sensações?
sendo assim, quem eu amo, senão a vida e tudo que nela está contido?
meus demônios disfarçados, meu mundo desmoronado
e meu anjo da guarda, de vestido florido, confiando e acreditando em mim.

tudo isso está colidindo e entrando em colapso no grande limbo que é a minha cabeça.