quarta-feira, 28 de março de 2012

"I had a vision of festive days"



Estava conversando com a Bia (não a sua irmã) sobre amizades verdadeiras. Falamos muito sobre tudo que vivemos ao longo desses vinte anos, todas as desventuras, todas as ilusões, tudo que nos fez tropeçar ao longo dessa jornada longa que é a vida.
É claro que eu citei meu exemplo favorito: você.
Faça uma pausa, acenda um cigarro. Quero ser tão breve quanto um trago, ou um gole. Tem cerveja na geladeira, você é de casa.
Não me lembro como foi exatamente que nos conhecemos, talvez nos rachas de bicicleta nas ruas da praia, entre tombos e joelhos ralados, mas lembro de quando você jogou o chinelo no imbecil do piercing que atrapalhava nossas filmagens. Ele ficou puto e foi pra cima de você. Essa foi a primeira vez que eu senti o meu sangue esquentar por uma pessoa. Sorte a dele que meu pai chegou na hora em que meu punho chegava na cara do idiota.
Um tempo depois, lembro das nossas longas caminhadas sem fim, devagar, divagando sobre a vida e a existência das coisas. Aqueles eram tempos tranquilos, em que pensávamos no porque de pensar. Nessas caminhadas também houveram minhas reclamações sobre garotas, e seus conselhos, sempre muito reconfortantes.
Nós crescemos, não exatamente juntos. Não moramos na mesma rua ou no mesmo condomínio, mas mesmo assim, você esteve presente em todos os meus bons momentos. Na minha investidura aos escoteiros, você estava lá. No meu aniversário de 15 anos, você me parabenizou.
Estávamos juntos, sempre. E a cada ano, nos reuníamos com nossas barraquinhas no melhor lugar do mundo, onde mais uma vez contávamos estrelas e causos até a alta madrugada - uma, duas da manhã.
Crescemos, mas eu continuava o mesmo. Continuava falando de garotas, e você continuava ouvindo. A verdade é que eu sempre tive inveja de sua bicicleta ter mais luzinhas que a minha, ou de você saber tocar violão e eu não. E você sempre tinha inveja de eu pegar mais garotas que você. Saudável, eu diria.
Hoje, somos quase adultos. "Temos um emprego que odiamos pra comprar merdas que não precisamos". Você manja pra caralho de música, domina escalas pentatônicas e fala sobre coisas que eu nunca ouvi falar. Comenta sobre notas musicais, harpejos e outras palavras que não constam no meu dicionário, enquanto eu te invejo e falo "é, pode crer...". Eu, por outro lado, tô na boemia ainda, nas decepções amorosas, nas brigas e desilusões femininas. Tudo por um rabo-de-saia. O lado bom é que você não tem mais luzinhas na sua bike, mas em compensação, tem fama na sua cidade de ser o galanteador (estou perdendo meu posto).
É engraçado pensar nisso. Não parece que o tempo passou depressa, parece que passou, apenas, do jeito que devia passar. Tenho lembranças ótimas, que não se perderam e que nunca se perderão. Foram dez anos de amizade plena e verdadeira. Não precisamos beber cerveja toda sexta, não precisamos nos falar todo dia, não precisamos curtir status toda hora. Sabemos da existência um do outro e isso basta.
Quando citei isso pra Bia, ela disse "não chora". Ela me via pela webcam. Eu estava engolindo seco. Não gosto disso, gosto de chorar, faz bem, revigora. Então, me castiguei. Coloquei The Rain Song pra tocar. Foi como se viessem todas as lembranças de uma vez, e mesmo sem saber o que o Jimmy Page tava fazendo com aquele violão, eu sabia que parte de você tava ali, me senti bem e chorei, chorei feito uma criança.
Então, o que é o amor, se não for isso?

I've felt the coldness of my winter
I never thought it would ever go
I cursed the gloom that set upon us, upon us, upon us
But I know that I love you so
Oh, but I know that I love you so

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