Agora estou com a garganta fodida, tossindo pra caralho. Aquela tosse com gosto de catarro, e aquele catarro que parece água.
Isso sempre acontece. Tempo seco, é normal. Mas eu odeio. É a única coisa que não me deixa dormir.
Qualquer coisa me deixa dormir, menos isso. Pra passar o tempo, andei lendo Bukowski. Ele também tá me debilitando. Não cheguei nem na metade do livro e já estou questionando o que eu era e o que eu me tornei.
Não me lembro de quando eu era feliz. Só consigo me lembrar das noites que virei bebendo ou tendo alucinações com drogas e músicas pesadas. Acho que esse é meu conceito de felicidade agora.
A tosse é a única coisa que permanece a mesma.
Não me lembro mais de dias ensolarados, apesar de tê-los visto e sentido o calor que fez nesse último feriado. Só consigo me identificar com este quarto, esta cor, esta luz. Todo o resto não parece eu.
Pra mim, eu sempre fui eu mesmo. Hoje percebo que eu sou um punhado de outras pessoas. Cada um chega e implanta um pedaço de si em mim, e quando eu vejo já sou essa parte dele. É difícil tentar lembrar de como eu era antes dos outros. Acho que eu não era.
Talvez o que eu consiga definir como "eu" é a latinha de cerveja e o rolo de papel higiênico (pras minhas masturbações diárias). O engraçado é que se todas as pessoas que me conhecem vissem esse outro lado, com certeza, estranhariam esse "novo" Lucas e o rejeitariam por achá-lo estranho demais. Se todos já tivessem visto o que eu já vi...
Enquanto vou me questionando, vou trocando de máscara e me enganando no espelho toda vez. O que eu não posso é continuar achando que o semblante de plástico é meu rosto de verdade.
Raimundo N. Rodrigues escreve: - O velho Buk é phoda, nem todos estão prontos para assumi-lo. Mas é bom é o retrato que gostaríamos de pintar.
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