quarta-feira, 9 de maio de 2012

Breu

E hoje, mais uma vez, paramos pra refletir sobre a consequência de nossas escolhas.
Um olhar pra cima, desconversado, reparou uma fresta no telhado:

-É bonito ver o sol nascer por entre essas telhas mais brancas.
-Olha, quase dá pra ver o céu azul!

Todo mundo tem pressa. Inclusive a gente. Nós movimentamos uma nação. Nós acordamos antes do galo, colocamos qualquer moletom, tomamos um gole de café, pegamos nossa carteira e caímos no mundo, enquanto a cidade dorme.
É escura a vida da nossa espécie. Acordamos no breu. Saímos iluminados somente pelas luzes in(can)de(s)centes dos postes. Subimos no ônibus, entramos no metrô. Desembarcamos no porão dos prédios sujos de fumaça das chaminés. Aí é que fica bonito ver o céu azul e o efeito que o sol da manhã faz nas frestas do telhado.
É assim. Tem sido assim. Essa máquina que gira e que corta, que esmaga, que tritura. Todos nós somos mutilados. Todos temos cicatrizes. Todos nós fomos, um dia, arrancados de um lugar para outro completamente desconhecido. E aí embarcamos, sem medo - ou não.
Aprendemos a viver nesse caos de barulho, sujeira. E é sujeira em todos os sentidos: física, moral e intelectual.
Sabemos que pra amar precisa tempo, e é isso que não temos. Temos tudo o que nos é necessário para a vida: dinheiro, roupas, comida. Falta tempo.
Se chegamos dez minutos mais cedo, aproveitamos como? Sentados, vendo TV. Folga serve para trabalhar em outro lugar. Antes de dormir, alguns sonham, outros pensam. Dormindo, alguns acordam, outros sonham. Acordados, alguns pensam, outros dormem.
Mutilados, cansados e sofridos, estamos todos sonhando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário