segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Não há vagas para visitantes

- Adorei nosso almoço hoje, babe.
- Eu também curti.


Eu sempre fui um estranho no ninho. Aparecer num lugar novo e completamente desconhecido não é novidade pra mim. Acontece que hoje, na minha primeira segunda feira de folga morando na Vila Mariana, eu me dei conta da nova fase que estou começando.
Havíamos comido num restaurante árabe dessa vez. Ela pagou, de novo. Na próxima a gente vai no espanhol.
Voltei caminhando e ela foi trabalhar. Passei a observar o novo cenário que eu me introduzia: asfalto, movimento, carros, pessoas no celular, calor. Hora do almoço. Gente fumando e andando, comendo e andando, falando e andando, e eu, cagando e andando.
São Paulo é um lugar estranho. Está sempre em movimento, sempre acontecendo. Mas é como se fosse um grande organismo formado por outros organismos pequenos. Cada um com sua vida, sua energia, sua engrenagem. Eles se movimentam sozinhos, e assim, fazem o grande sistema rodar. E eu estava no meio, sendo levado pela grande onda, pra qualquer lugar que eu caísse.
Lembrei de quando cheguei nesta terra nova. Me senti meio estranho. Me senti vigiado, como se todos olhassem para mim, me julgando e classificando, me definindo como mais um recém chegado. Passei por uma placa que me fez lembrar que eu não pertencia àquele lugar. "Não há vagas para visitantes". A placa se referia a um estacionamento de um condomínio, onde as vagas eram contadas exatamente para o número de moradores. Mas a carapuça serviu e eu fiquei pensando nisso, em quanto tempo eu levaria para ser sugado pelo grande monstro da cidade grande e me tornar mais um de seus órgãos - cancerígeno ou não.
Não é nenhum grande problema, visto que em casa eu tenho tudo que preciso. Tenho uma cama confortável, comida no prato e uns agrados de uma moça bonita. Mas é sim, um fato irrefutável de que esta é uma fase que pode deixar marcas profundas no que a gente acredita ser.
Por fim, o que é esta cidade senão um misto de visitantes diferentes que acabam se hospedando definitivamente em seu núcleo? E eu, o que seria senão mais um destes?

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