quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A esquina

Sou um boêmio desacreditado. Estou no melhor formato medíocre. Poucas linhas, frases curtas. Minhas orações não são mais mantras. Minhas orações são compostas de sujeito e predicado, apenas. Eu fiz, eu fui, eu sou.
Estou vivendo. Talvez seja por isso que nessa parede bonita não sai mais nenhum rabisco. Estou preferindo gastar meus lábios em algumas bocas - sejam elas de vidro ou de batom. Estou preferindo a tradicional conversa de buteco, sujeita a erros de concordância e gagueira.

Naquela esquina, os assuntos mudavam de acordo com as bundas que passavam, os carros que cruzavam e os copos que esvaziavam. Eu me esquecia do que era composto, e me empenhava em ser apenas um corpo presente.
Eu sou composto de ideias. Mas dessas ideias, nenhuma estava presente naquele momento. Ou melhor, uma estava. Existia um par de lábios, que falavam a uma distância muito curta de mim. Esses lábios avermelhados outrora foram meus, e estiveram em contato com minha pele durante muito tempo. Naquela esquina, os lábios falavam qualquer coisa, da qual eu não me importava, mas no fundo desejava aqueles lábios fechados, lacrados, quietos, em outro lugar, mas ainda dentro do meu alcance.
Hoje, naquela esquina eu queria estar sozinho. Queria fazer um desenho. Queria ser um cartunista e desenhar uma saga épica, de um homem que, pra alcançar a vida eterna, se aventura pelo mundo exterior, o mundo em que vive, aprendendo e apanhando, para um dia, sentar-se ao lado de sua Deusa.
É difícil de explicar escrevendo. Talvez esse seja o motivo pelo qual eu tenho bebido mais do que escrito.
Aqueles lábios avermelhados que outrora foram meus, aqueles olhos grandes e fundos que outrora foram meus, agora são apenas uma luz, uma força que eu tenho a me envolver e que me nutre nessa minha campanha em busca de experiência.

Naquela esquina, eu vou ficar em pé, novamente. Talvez acender um cigarro e repensar. Minha Deusa eu nem sei se me aguarda mais.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Trilha Sonora dos Meus Últimos Dias - Dance of Days - Quando o Dia Aquece Sementes Mortas (2004)

Quem me dera desaparecer
antes de alcançar o outro lado da estrada,
e perceber que eu, se fui Rei,
fui Rei das chagas
que o dia exibi como troféu
na cabeça degolada aos plebeus,
erguida ao mundo na estaca
para que possa ver
que o Rei do Nada sequer teve um nome
para gravar na pedra
e cobrir de flores.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Mas...

ontem eu fui até a cozinha e preparei um sanduíche pra mim. lembrei de quando sua mãe perguntou se eu tinha algum problema de visão, porque quase me debruçava na mesa pra fazer o pão
depois, lembrei da gente sentado no seu sofá
vendo tv e tomando café
num domingo de sol
comi o sanduíche e liguei pra você...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Rascunho (ou Agora Não Tem Como Fugir)

é o seguinte, eu não tô apaixonado por você. ou queria não estar.
queria não estar, porque (embora eu quisesse muito) você não está apaixonada por mim.
a verdade é que eu te achei apaixonante e quero deixar isso claro aqui.
Eu me arrependo de não ter dito isso naquele dia na faculdade, mas tive vergonha e sei lá, seus amigos estavam lá e tal. Mas eu bati o carro e quebrei a clavícula. Desde então eu não fiz mais nada a não ser pensar na minha vida. Eu podia ter morrido, sem te falar tudo que eu queria e que já tinha ensaiado.
Pode parecer brincadeira, ou sei lá, equívoco ou precipitação, mas você mexeu com o cara errado. Eu mergulho de cabeça.
O que eu quero dizer, é que você me instigou a querer mais. Talvez, você tenha feito isso sem querer. Mas agora, eu quero mais. Quero ver seu cabelo balançar com a brisa do mar. Quero acampar com você. Quero ver o sol nascer do seu lado. Quero conversar de política e religião com você. Quero te levar no cinema. Quero fazer você rir. Quero beijar sua boca. Quero provar pra você que sei muito bem conduzir uma dama, mesmo sendo mais novo. Quero provar que idade não importa. Quero ver seu quadril mexer ao som de Disritmia (música que não sai da minha cabeça até hoje).

"Eu quero me esconder debaixo
Dessa sua saia prá fugir do mundo.
Pretendo também me embrenhar
No emaranhado desses seus cabelos.

Preciso transfundir teu sangue
Pro meu coração, que é tão vagabundo.
Me deixa te trazer num dengo
Prá num cafuné fazer os meus apelos."

Quero tomar uma cerveja com você. Quero que você tome do meu copo. Quero viver você. Quero estudar você. Quero te experimentar. Não me importo com o tempo, quanto tempo te conheço ou quanto tempo vai durar. Quero que seja intenso, como qualquer paixão, e quero que seja incerto. Não vou te cobrar nada, e não espero cobrança também. Você pode muito bem não querer nada disso. Eu vou entender. Quero viver, e quero que você faça parte disso.
Talvez eu esteja apaixonado por você, sim...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Trilha Sonora dos Meus Últimos Dias - Tulipa Ruiz - Sushi (2010)

Viver é não ter que transplantar…

Doar sangrar trocar chamar pedir mostrar mentir falar justificar no cais chorando não sou eu quem vai ficar dizendo adeus batucada macaco no seu galho da roseira em flor da laranjeira amor é choradeira horror a vida inteira à beira da loucura e a dor e a dor e a dor e a dor…


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=FSAm8mk7ToQ#!