quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pane no Sistema


Cá estou eu, fumando no meu quarto, e considerando isso uma grande conquista. Este sou eu hoje. Soprando fumaça na cara do computador. O moço velho. De nenhuma grande batalha. Minha geração é perdida. Não temos nada com o que se preocupar, além dos likes e das notificações novas.
A quem eu quero enganar? O que espero provar assim?  Estou tentando me autoafirmar como o cara que eu li num livro. Ele não era eu, mas era alguém,  mesmo  que mais um bosta fracassado. E eu, o que sou?
Sou o cara que busca a si mesmo nos outros. Busca força e se alimenta de novos espíritos jovens e bem alimentados. O cara que precisa sempre de motivação alheia pra seguir, por pura preguiça de trilhar seu próprio caminho.
Mas quem vai me dizer que eu devo trilhar meu próprio caminho? E quem vai me explicar como fazer isso? Grandes nomes da MPB? Poetas que escreviam o que achavam bonito? E qual era a inspiração deles? Será que buscavam encontrar a si mesmos em realidades paralelas ou em seus ídolos?
Somos um misto de memórias e informações vividas por outros. Vivemos algumas poucas coisas, relatamos, misturamos com as outras informações e só. Juntamos informações exatas e inexatas, e transformamos em realidade. Essa é a função do homem.
Esta é a sociedade, este sou eu. Uma máquina orgânica que precisa de energia pra produzir bosta. E a mesma energia controlada pelo software dessa máquina produz uma realidade imagética que lhe serve de base pra produzir mais bosta. No fundo somos só carne em decomposição.
Sonhos, lembranças, memórias, imagens, sons, cores, figuras, aromas, sensações e gostos são apenas elementos que ilustram o que chamamos de realidade. No fundo, nada é real. A verdade é que só fazemos parte do contexto todo, do universo, que pode estar inserido em outro contexto muito maior, e que nunca compreenderemos.
Matéria orgânica, a mesma base do resto do mundo. Átomos, moléculas, que são parte do corpo maior, que chamamos de universo.
Um cigarro não é suficiente pra compreender toda nossa existência.
é você olhar no espelho e se sentir um grandessíssimo idiota,
saber que é humano, ridículo, limitado e que só usa dez por cento de sua cabeça animal
e você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social 
 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Dia Em Que Eu Morri

Ele já sabia o que estava o aguardando. Quando o relógio bateu 18h, ele colocou o som no volume mais alto que podia. Ave Maria da Rua. A figura feminina que ele tanto respeitava, e precisava. Encheu seus olhos de lágrimas ao fazer a oração, mesmo não acreditando em nada daquilo.
Depois, Canto Para Minha Morte. No fim do primeiro refrão ele não aguentou e substituiu para Alive. Ouviu-a inteira e viajou no solo de guitarra. Depois, De Onde Vem a Calma, enquanto comia uma maçã.
Pegou o carro e saiu. Ficou parado no trânsito por 40 minutos. "É tarde e eu não voltei". No fim, trocou de álbum. The Black Parade.
Um carro cruzou sua frente. No último verso de Dead, reparou na placa: DED e mais alguns números aleatórios. Sentiu a presença da morte e teve medo. A partir daí, começou a se preocupar.
Saiu do engarrafamento e pegou a rodovia. Um motoqueiro bambeou a 100km/h. Ele ficou observando a moto de longe, só esperando a queda. A moto sumiu no horizonte. A morte não estava com ela.
Pensou nele próprio, mas não podia ser. Pareceu um boneco, uma marionete, dirigindo sem prestar atenção nos arredores, apenas na pista, no vidro da frente.
Seguiu o caminho, respeitando os limites de velocidade. Parou em todos os semáforos, respeitou as faixas de pedestre. A cada esquina, esperava um caminhão em alta velocidade, um ônibus desgovernado, ou ainda, um cachorro atravessando distraído.
Virou numa ruazinha de bairro e viu um vulto branco no meio da pista. O carro da frente freou bruscamente. Ele freou também, logo em seguida, e parou completamente. Era uma menininha aprendendo a andar de bicicleta. Seu pai pediu desculpas e a tirou da rua.
Seguiu reduzindo a velocidade a cada cruzamento. Nem ouvia mais a música no rádio. Estava em alerta. Sentia cheiro de morte.
Pensou em seus pais, seu irmão. Não podia ser, eles estavam bem quando ele saiu de casa. Pensou em sua professora com câncer. Tomara que não seja ela.
O cheiro de morte estava mais forte. Fumaça. O carro estava pegando fogo? Não. Era um ginásio que estava queimando desde a manhã.Viu os bombeiros e procurou algum corpo. Não achou nada.
Já estava chegando, e foi ficando preocupado. De quem seria esse cheiro de morte que estava pairando ali? Seria dele mesmo?
Estacionou o carro e viu um casal segurando um bebê recém nascido no colo. O casal entrou na casa em frente ao carro estacionado.
Ele trancou as portas e desceu a ladeira. Entrou num boteco pra comprar cigarro. Pediu um Marlboro vermelho e observou o movimento. Era ali que a morte estava. Algum noia ia entrar e assaltar o boteco, ainda ia atirar na sua cabeça. BAM! E ele ainda ia ter tempo de ver seu sangue e seus miolos no chão, antes de apagar.
Não foi isso que aconteceu.
Parou na esquina do boteco e acendeu o cigarro. Foi andando devagar e aproveitando cada tragada. Ia ser seu último cigarro.
Cruzou a catraca e seu cigarro estava na metade. Parou na porta do prédio e fumou o resto. Apagou a bituca num copinho de café que estava no murinho e levantou. Sentiu seu coração pulsando devagar.
Entrou na secretaria e buscou café. Não tinha. Resolveu subir. Estava mais que atrasado.
Antes, parou no banheiro pra mijar. Pôs o pau pra fora, no mictório, e apoiou a cabeça na parede. Lembrou-se de quando trabalhava na fábrica. Ele costumava dormir por dois minutos, com a cabeça apoiada na parede, enquanto mijava. Depois, aprendeu a fazer isso quando estava muito bêbado pra conseguir ficar em pé, pra mijar.
Lavou a mão e subiu, degustando degrau por degrau. Entrou na sala. Todos olharam pra ele. O professor continuou explicando.
Escutou no auto-falante do computador: "Eu sou Lucas Panoni e esse foi o Drops Plug USCS". Capotou na cadeira.

Morreu ali, na sala de aula, durante o discurso do professor Flávio Falciano, sobre seu programa de rádio jornal.


domingo, 23 de setembro de 2012

- Então você fuma pra preencher o vazio?
- Sim. Pra preencher o vazio das Penelopes, Tamires e Marinas. E o vazio dos Lucas que ficaram nelas...

Prosa de bosta


Sou assim. Sempre fui tachado de fracassado. Gostava do sofrimento, achava bonito. Todos riam de mim e eu não me importava com as risadas. Ate gostava. Gostava porque trazia eles pra perto.
Então, as coisas começaram a dar certo pra mim. Eu não estava acostumado. Me sentia bem com o fracasso, estava adaptado com o sistema da falha. Eu falhava, eles riam, eu chegava perto, e falhava. A falha era matéria prima do meu trabalho. Chegava em casa e escrevia sobre tudo o que me encantava. Me chamavam de louco. Escrevia sobre as falhas e me chamavam de artista.
Quando as coisas começaram a dar certo e parecer com o que eu me encantava, me senti estranho. Aquele parecia não ser eu. Eu era o falho, não o jovem alegre que fazia planos pro futuro. Resolvi romper com isto, e voltei pra falha.
Sempre fui apegado à minha merda. Depois que cagava, olhava pra ela e observava ela ir embora pelo cano. Ás vezes uma tora bonita e majestosa, digna de ser chamada de merda. Ás vezes um monte de pasta marrom, que saía sujando a louça, digna de ser chamada de bosta.
Eu queria tirar uma foto de cada merda e fazer um mural. Cada uma representando uma característica minha.
A merda escultural, aquela coisa grande e imponente, que fica com a cabecinha pra fora da água e dá a impressão  de que não vai descer.
A merda dividida, que está toda retalhada, porque de alguma maneira o cu hesitou em deixá-la ir embora por inteiro.
A merda sólida, ressecada, que é como se estivesse levando consigo todas as impurezas do corpo.
A bosta pastosa, que demora a sair, e parece que levou uma parte do corpo consigo. Aquela que, pela força exercida, parece que vai ser lustrosa e colossal, mas quando se vê, é apenas uma tira de Suflair derretido.
A bosta líquida, que é só arrumar uma brecha que sai. Sem esforço, sem dificuldade, com rapidez, mas sem êxito. A bosta menos digna que seu intestino pode produzir.
Estes são apenas alguns exemplos de merdas que podemos fazer. Eu sempre reparei nas minhas, e sempre dei o devido crédito ao meu cu, por tê-las esculpido com o esforço devido. Posso dizer que cada merda representa uma parte de mim, da minha vida, já que eu sigo vivendo assim, como merda, só forçando a passagem e passando, saindo, e fluindo, cada vez de uma maneira, me adequando ao momento. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A Deusa Grega Imortal

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Pensa, logo incita.

Ante os olhos dos que o cercam passa como quem não quer nada.
Aspirante a bon vivant,
agora aspira entre a cerveja e a cachaça.
Palma da mão é de calos, palavras o afagam quando o calam.
'Seja realista' eu falo, 'pare de crer que pode mudar o mundo!
Joga teus ideais no lixo e senta pra tomar um café'.
Se cala, sorri. Sabe que é uma pessoa errada.
A pessoa errada, na época errada,suas tatuagens desmentem sua cara lavada. 

Os lábios nunca tocados, os cabelos nunca acariciados, as mãos nunca encontradas, as pernas nunca abertas.
Estive procurando um texto que escrevi pra ela, mas não achei. Achei só o que ela escreveu pra mim. Parece mais um prólogo, um presságio, ou até mesmo, uma premonição. 
Ô moça pra arrancar suspiros. Foi embora, talvez nem volte. Tá longe e só me deixou as fotos.
Como é que eu posso tomar como referência alguém que eu nunca tive contato?
Talvez esse seja o intuito dos grandes deuses da sua terra.
"Pra que sempre mais mulheres? O que eu estava tentando fazer? Era excitante um caso novo, mas também dava um trabalhão. O primeiro beijo e a primeira trepada tinham uma certa dramaticidade. As pessoas são interessantes no início. Aos poucos, porém, todos os defeitos e loucuradas botam as manguinhas de fora, é inevitável. Começo a significar cada vez menos pras pessoas, e elas pra mim."

(Mulheres - Charles Bukowski)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Bukowski me fodeu

Agora estou com a garganta fodida, tossindo pra caralho. Aquela tosse com gosto de catarro, e aquele catarro que parece água.
Isso sempre acontece. Tempo seco, é normal. Mas eu odeio. É a única coisa que não me deixa dormir.

Qualquer coisa me deixa dormir, menos isso. Pra passar o tempo, andei lendo Bukowski. Ele também tá me debilitando. Não cheguei nem na metade do livro e já estou questionando o que eu era e o que eu me tornei.

Não me lembro de quando eu era feliz. Só consigo me lembrar das noites que virei bebendo ou tendo alucinações com drogas e músicas pesadas. Acho que esse é meu conceito de felicidade agora.

A tosse é a única coisa que permanece a mesma.

Não me lembro mais de dias ensolarados, apesar de tê-los visto e sentido o calor que fez nesse último feriado. Só consigo me identificar com este quarto, esta cor, esta luz. Todo o resto não parece eu.

Pra mim, eu sempre fui eu mesmo. Hoje percebo que eu sou um punhado de outras pessoas. Cada um chega e implanta um pedaço de si em mim, e quando eu vejo já sou essa parte dele. É difícil tentar lembrar de como eu era antes dos outros. Acho que eu não era.

Talvez o que eu consiga definir como "eu" é a latinha de cerveja e o rolo de papel higiênico (pras minhas masturbações diárias). O engraçado é que se todas as pessoas que me conhecem vissem esse outro lado, com certeza, estranhariam esse "novo" Lucas e o rejeitariam por achá-lo estranho demais. Se todos já tivessem visto o que eu já vi...

Enquanto vou me questionando, vou trocando de máscara e me enganando no espelho toda vez. O que eu não posso é continuar achando que o semblante de plástico é meu rosto de verdade.