Sou assim. Sempre fui tachado de fracassado. Gostava do
sofrimento, achava bonito. Todos riam de mim e eu não me importava com as
risadas. Ate gostava. Gostava porque trazia eles pra perto.
Então, as coisas começaram a dar certo pra mim. Eu não
estava acostumado. Me sentia bem com o fracasso, estava adaptado com o sistema
da falha. Eu falhava, eles riam, eu chegava perto, e falhava. A falha era
matéria prima do meu trabalho. Chegava em casa e escrevia sobre tudo o que me
encantava. Me chamavam de louco. Escrevia sobre as falhas e me chamavam de
artista.
Quando as coisas começaram a dar certo e parecer com o que
eu me encantava, me senti estranho. Aquele parecia não ser eu. Eu era o falho,
não o jovem alegre que fazia planos pro futuro. Resolvi romper com isto, e
voltei pra falha.
Sempre fui apegado à minha merda. Depois que cagava, olhava
pra ela e observava ela ir embora pelo cano. Ás vezes uma tora bonita e
majestosa, digna de ser chamada de merda. Ás vezes um monte de pasta marrom,
que saía sujando a louça, digna de ser chamada de bosta.
Eu queria tirar uma foto de cada merda e fazer um mural. Cada
uma representando uma característica minha.
A merda escultural, aquela coisa grande e imponente, que
fica com a cabecinha pra fora da água e dá a impressão de que não vai descer.
A merda dividida, que está toda retalhada, porque de alguma
maneira o cu hesitou em deixá-la ir embora por inteiro.
A merda sólida, ressecada, que é como se estivesse levando consigo
todas as impurezas do corpo.
A bosta pastosa, que demora a sair, e parece que levou uma
parte do corpo consigo. Aquela que, pela força exercida, parece que vai ser
lustrosa e colossal, mas quando se vê, é apenas uma tira de Suflair derretido.
A bosta líquida, que é só arrumar uma brecha que sai. Sem esforço,
sem dificuldade, com rapidez, mas sem êxito. A bosta menos digna que seu
intestino pode produzir.
Estes são apenas alguns exemplos de merdas que podemos
fazer. Eu sempre reparei nas minhas, e sempre dei o devido crédito ao meu cu,
por tê-las esculpido com o esforço devido. Posso dizer que cada merda
representa uma parte de mim, da minha vida, já que eu sigo vivendo assim, como
merda, só forçando a passagem e passando, saindo, e fluindo, cada vez de uma
maneira, me adequando ao momento.
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