Acordei num susto às sete da manhã
Você estava virada de costas para mim
Percebi uma estranha movimentação
Quando olhei, era o cachorro vindo em minha direção
Curiosa a realidade do ponto de vista
de quem está com sono e não consegue
raciocinar direito
Ele deitou no meu travesseiro
e eu busquei um jeito de me encostar
nos seus cabelos e voltar a dormir
Mas mesmo assim ficou uma certa dúvida no ar
Porque eu lembro de querer fotografar esse momento
Não consegui pegar o celular,
desisti, te dei um beijo e te abracei
e voltamos a dormir
Mas curiosa a realidade do ponto de vista
De quem tá com sono e não consegue
Raciocinar direito
Vou recordar essa fotografia imaginária
De nós dois e o cachorro e o travesseiro
sonolentos, às sete da manhã
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Manifesto por um relacionamento equilibrado
Toda mulher deveria comer bem. Se preocupar com a alimentação. Mas, veja bem, não tô falando de fazer dietas malucas, regimes e ficar neurótica com seu peso. Tô falando de comer bem, equilibradamente, sem preocupação com os carboidratos.
Eu não sou ninguém pra falar de alimentação. Tenho ressaca de gordura. Encho a cara de bacon, linguiça, ovo, bisteca, torresmo, maionese e feijão e vou dormir com a barriga cheia, estufada. Acordo no meio da noite com o inferno de Dante no meu sistema digestório, bebo um copo d'água e juro por tudo que é mais sagrado que nunca mais vou comer tanta porcaria.
É claro que é gostoso comer essas coisas, e namorada tá aí pra acompanhar a gente nessas empreitadas, mas as coitadas sofrem. Aquele ditado que diz que namorar é engordar junto faz todo o sentido.
O problema é que, pensando a longo prazo, ninguém quer uma namorada tão junkie quanto si próprio.
Eu já me dei muito mal querendo ficar com meninas que são muito parecidas comigo. Eu gosto de música ruim, gosto de cerveja barata, gosto de gorduras saturadas e não pratico exercícios. Acordo tarde e fico o dia inteiro entre internet, tv e videogame. Compare, uma namorada igual a mim significa permanecer estático na frente da vida, e morrer de overdose de pizza, ou inalando cheiro de mofo no teto da sala.
Eu como mal, mas sei que como mal. Sei que tenho que melhorar minha alimentação, sei que tenho que fazer alguma coisa da minha vida, mas tô com preguiça. Minha namorada tem que ser a pessoa que me tira dessa preguiça! Pra me acompanhar já me basta meu cachorro!
As mulheres são a ignição da vida. Ter uma namorada sedentária só faz a gente ser sedentário, e quem quer ficar parado arruma qualquer pretexto pra fazê-lo.
Por outro lado, é bom, de vez em quando, ficar assim, juntinho, de bobeira, cheio de vírgulas. Deitar no sofá e detonar um balde de pipoca, um balde de frango frito ou comida chinesa. Encher a cara de Itaipava com feijoada - e melancia de sobremesa - e cochilar numa tarde de domingo, durante o jogo do Corinthians. Ter um colo feminino pra isso é tudo que eu pedi a Deus. Desde que, no outro dia ela me mande escovar os dentes antes de dormir, que ela me dê um copo de àgua e diga que meu rim tá precisando, mas que em seguida, deite no meu peito e diga que é confortável o macio da minha barriga, e que minha barba acomoda sua cabeça de um jeito bom.
É isso, meus amigos. Se eu posso dar um conselho, fica esse: namorem uma mulher equilibrada, e nunca vai te faltar nada no seu relacionamento.
Eu não sou ninguém pra falar de alimentação. Tenho ressaca de gordura. Encho a cara de bacon, linguiça, ovo, bisteca, torresmo, maionese e feijão e vou dormir com a barriga cheia, estufada. Acordo no meio da noite com o inferno de Dante no meu sistema digestório, bebo um copo d'água e juro por tudo que é mais sagrado que nunca mais vou comer tanta porcaria.
É claro que é gostoso comer essas coisas, e namorada tá aí pra acompanhar a gente nessas empreitadas, mas as coitadas sofrem. Aquele ditado que diz que namorar é engordar junto faz todo o sentido.
O problema é que, pensando a longo prazo, ninguém quer uma namorada tão junkie quanto si próprio.
Eu já me dei muito mal querendo ficar com meninas que são muito parecidas comigo. Eu gosto de música ruim, gosto de cerveja barata, gosto de gorduras saturadas e não pratico exercícios. Acordo tarde e fico o dia inteiro entre internet, tv e videogame. Compare, uma namorada igual a mim significa permanecer estático na frente da vida, e morrer de overdose de pizza, ou inalando cheiro de mofo no teto da sala.
Eu como mal, mas sei que como mal. Sei que tenho que melhorar minha alimentação, sei que tenho que fazer alguma coisa da minha vida, mas tô com preguiça. Minha namorada tem que ser a pessoa que me tira dessa preguiça! Pra me acompanhar já me basta meu cachorro!
As mulheres são a ignição da vida. Ter uma namorada sedentária só faz a gente ser sedentário, e quem quer ficar parado arruma qualquer pretexto pra fazê-lo.
Por outro lado, é bom, de vez em quando, ficar assim, juntinho, de bobeira, cheio de vírgulas. Deitar no sofá e detonar um balde de pipoca, um balde de frango frito ou comida chinesa. Encher a cara de Itaipava com feijoada - e melancia de sobremesa - e cochilar numa tarde de domingo, durante o jogo do Corinthians. Ter um colo feminino pra isso é tudo que eu pedi a Deus. Desde que, no outro dia ela me mande escovar os dentes antes de dormir, que ela me dê um copo de àgua e diga que meu rim tá precisando, mas que em seguida, deite no meu peito e diga que é confortável o macio da minha barriga, e que minha barba acomoda sua cabeça de um jeito bom.
É isso, meus amigos. Se eu posso dar um conselho, fica esse: namorem uma mulher equilibrada, e nunca vai te faltar nada no seu relacionamento.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Samba Número 1
Seu samba virou carne de segunda
Não dá mais pra fazer um ensopado
Escândalo não faz um bom sambista
Malandro é quem não dá sopa pro azar
Eu acho que você escorregou na pista
E não consegue mais se levantar
Vamos andando como diz Martinho:
"é devagar, devagarinho..."
Eu posso ensinar como é que faz
E você não vai mais ficar pra trás
Não dá mais pra fazer um ensopado
Eu sei que hoje o samba, é uma porção de bunda
Mas acho que ainda rende um bom bocado
Mas acho que ainda rende um bom bocado
Talvez se fosse menos trabalhado
Talvez não tão estereotipado
Não precisa avisar: "tô indo ali sambar!"
Talvez fique melhor equilibrado
Talvez fique melhor equilibrado
Eu faço samba e amor até mais tarde
Porque faço assim, sem muito alarde
Se quero libertar, se quero extravasar
Espero quando o carnaval chegar
Porque faço assim, sem muito alarde
Se quero libertar, se quero extravasar
Espero quando o carnaval chegar
Escândalo não faz um bom sambista
Malandro é quem não dá sopa pro azar
Eu acho que você escorregou na pista
E não consegue mais se levantar
Vamos andando como diz Martinho:
"é devagar, devagarinho..."
Eu posso ensinar como é que faz
E você não vai mais ficar pra trás
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
É isso e mais nada...
As formigas operárias buscam alimento cada vez mais longe de seus formigueiros. Na
selva (que pode ser a mata atlântica ou o jardim do quintal) elas defendem suas
vidas com a força delas mesmas. Suas garras são suas armas – uma picada de
formiga não é algo muito agradável.
Enquanto isso, no núcleo do formigueiro, a
rainha produz novos súditos. Cada vez mais gorda, perdeu a habilidade de se
defender, então, depende da ajuda de sua população. A rainha não conhece o
incômodo da picada de uma formiga. Pra ela poderia ser fatal.
Ontem a noite, morreu um cara na periferia de
São Paulo. Falava no celular com a filha, na janela de casa. Talvez depois de
um longo dia de trabalho. Levou chumbo na cabeça, direto. Uma bala perdida.
Talvez vinda da arma de um policial. Talvez. Muita coisa acontece em uma
madrugada. Muita gente amanhece com a boca cheia de formigas. Pode ser na mata
atlântica ou no jardim do quintal.
Na periferia, cada um se defende como pode.
O formigamento nas extremidades do corpo é um
sintoma comum de ansiedade, medo ou nervosismo. Caminhando pela Av. Paulista,
eu (ex. formiga e atual gafanhoto) abordei um policial que caminhava
tranquilamente com seu parceiro, assegurando a ordem e a disciplina (ou o
progresso). Perguntei onde era a FNAC. Me respondeu com olhos de ‘’tenho cara
de guia turístico ?’’ e eu agradeci com cara de ‘’servir e proteger a
população é o seu lema, certo ?’’. Engraçado como às vezes a gente fala
com palavras uma coisa, e ao mesmo tempo, com os olhos a gente diz outra.
Segui meu caminho e vi muita gente diferente.
A Avenida Paulista de segunda feira na hora do almoço é um verdadeiro
formigueiro. Funcionárias voluptuosas com saias no joelho e decotes abertos até
o terceiro botão. É assim que elas ganham a vida. Chefes de departamento gordos
e suados, discutindo qualquer coisa que tivesse a ver com círculos. Pode ser
futebol, os seios de suas funcionárias, os ‘’gráficos de pizza’’ dos seus
investimentos, ou até mesmo, o formato de seus corpos. Esses homens adoram
falar sobre si mesmos.
Vi homens engravatados falando sozinhos com bíblias na mão. Vi homens engravatados falando sozinhos com pastas na mão. Vi mulheres falando sozinhas com crianças na mão. Ciclistas, skatistas, empresários e turistas. Todos estavam ali, e ali era o lugar de todos. Só não dos artistas de rua. Estes atrapalham a coexistência da população ali. A arte é pra ser apreciada, e pra isso, não se deve atrapalhar. A beleza daquele lugar é feita de concreto e aço retorcido. Artista de rua ali, deve ser, no máximo, uma daquelas estátuas humanas.
E ali tinha policiamento. Em cada quadra, uns quatro guardas. Todos trabalhando em prol da segurança e conforto dos habitantes da cidade. As formigas guardiãs faziam seu serviço onde ele deve ser feito : dentro do formigueiro. As operárias ficaram às margens, lutando pela sobrevivência com as próprias garras e servindo de notícia ao sensacionalismo barato do entretenimento diário. É pra isso que elas servem : produzir alimento para a rainha, construir o palácio real, sustentar a base da pirâmide hierárquica do formigueiro.
Vi homens engravatados falando sozinhos com bíblias na mão. Vi homens engravatados falando sozinhos com pastas na mão. Vi mulheres falando sozinhas com crianças na mão. Ciclistas, skatistas, empresários e turistas. Todos estavam ali, e ali era o lugar de todos. Só não dos artistas de rua. Estes atrapalham a coexistência da população ali. A arte é pra ser apreciada, e pra isso, não se deve atrapalhar. A beleza daquele lugar é feita de concreto e aço retorcido. Artista de rua ali, deve ser, no máximo, uma daquelas estátuas humanas.
E ali tinha policiamento. Em cada quadra, uns quatro guardas. Todos trabalhando em prol da segurança e conforto dos habitantes da cidade. As formigas guardiãs faziam seu serviço onde ele deve ser feito : dentro do formigueiro. As operárias ficaram às margens, lutando pela sobrevivência com as próprias garras e servindo de notícia ao sensacionalismo barato do entretenimento diário. É pra isso que elas servem : produzir alimento para a rainha, construir o palácio real, sustentar a base da pirâmide hierárquica do formigueiro.
Sendo assim, pra quê se preocupar com o homem
que morreu com uma bala perdida enquanto falava no celular, na noite passada,
na periferia de São Paulo ? Permaneci apático, passando sem perceber as
pessoas. Ignorando pedintes de dinheiro, comida e/ou atenção. Estou errado, ou
não ? Quem está com a razão ?
Entrei num shopping para almoçar. Onde mais eu
poderia ? Subindo as escadas, segurando no corrimão, desviei do contato
manual com um funcionário do Mc Donald’s. Ele nem me notou. Eu nem o notei.
Comendo uma pizza de ontem, uma bicha velha me abordou de maneira tão cafona
que eu fiquei me perguntando se aquele xaveco realmente funcionava. ‘’sou
artista plástico’’, ele disse, ‘’você é muito interessante’’. Respondi que eu
não fazia o tipo dele. Ele foi embora e nem pediu desculpas.
Resolvi largar a pizza pra lá e voltar pra
minha toca. Essa selva de pedra é realmente perigosa e eu não tenho muita
habilidade em me defender. Desci para o subsolo junto com outros insetos.
Passei pelos túneis sujos do metrô até chegar no meu destino. Subi para a
superfície e me incomodei com o frio. Talvez meu lugar não seja nem no núcleo, nem na selva. Talvez seja nas entranhas
úmidas, quentes e apertadas do grande centro da cidade-formigueiro.
"Diz então se beijarias minha boca cheia de formigas agora que é isso e mais nada..."
(Nenê Altro)
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