sábado, 12 de janeiro de 2013

Naufrágio

Chega, senta, olha ao redor. Queria ser livre, mas tem medo de nadar. Queria sentir o mar subindo cada vez mais e a engolindo. Vez em quando queria flutuar. Pisar nas águas e caminhar pra frente, sem direção. Ao invés disso, prefere desenhar espirais cavando e enterrando os dedos na areia.                    
Conheceu um homem que a amou muito. O homem a fez mulher. Ela gostava de tê-lo ao lado. Se sentia protegida.
Construiu nele uma muralha, um forte. Se desarmou, se despiu. Adormeceu. Estagnou. Quando acordou, a muralha cedia. A maré subiu e foi levando pedra por pedra.
Ela assistia, desesperada. Tentava reerguer as pedras, mas o vai e vem das ondas rolavam-nas para o fundo. Se viu aos prantos, despida, sem muralha, desenhando espirais na areia.

Chega, senta, olha ao redor. Queria ser livre, mas não sabe dirigir. Queria acelerar fundo numa rodovia, mas qual o momento de trocar a marcha? Vez em quando, afundar o pára-choque num poste ou guardirreio. Capotar numa curva. Sair da estrada. Morrer no mar. Ao invés disso, prefere desenhar espirais com o canudo do drink.
Afoga seus anseios no intervalo entre doses e busca um glamour barato no derreter de sua vida dentro do copo americano.

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